Carta Boi – O diferencial de base, o mercado a termo e a teoria dos jogos

O diferencial de base determina a diferença de preços do boi gordo entre a praça pecuária de São Paulo e outra praça pecuária qualquer.
Esta diferença de cotações é determinada por vários fatores. Além da situação de oferta em ambas as regiões (a praça e São Paulo), tem-se a demanda por gado em cada local. Há a demanda por gado e a demanda por carne.
Esclarecemos que por vezes um frigorífico demanda gado para abate, para mandar carcaças ou carne para outras regiões (demanda por gado, sem demanda por carne na região).
A possibilidade de transporte de gado, carcaça ou carne é avaliada constantemente pelos frigoríficos, principalmente os de maior porte, que possuem plantas em diferentes estados.
Se considerarmos um frigorífico de São Paulo, que pretende trazer gado de Mato Grosso do Sul, por exemplo, ele avalia se o gado, com frete e impostos, chegará à planta com preços competitivos com os bois comprados mais perto, caso existam.
Frete e impostos ajudam a definir a demanda dos frigoríficos de São Paulo por gado no estado vizinho, mas não definem o preço lá. Isto ocorre porque há também a demanda local.
Se não vendo boi para fora do estado, qual é o meu interesse no diferencial?
Muitas vezes o pecuarista acompanha o diferencial de base, buscando uma referência para avaliar os preços na região. Na prática, em regiões próximas a São Paulo, onde há transito de boiadas, um diferencial grande tende a ser corrigido pelo aumento da busca de gado “barato” na praça vizinha.
Para regiões distantes, a influência é menos direta, influenciada pelo possível envio de carne para os grandes centros consumidores.
Podemos destacar outro ponto importante para que o pecuarista avalie o diferencial de base, é o contrato a termo, ou outras ferramentas diretamente na BM&FBovespa (futuros e opções).
O boi a termo é um contrato antecipado de venda da boiada para o frigorífico, com algumas condições estabelecidas. A trava do diferencial pode ser uma das vantagens desta opção.
Nas outras, feitas diretamente na bolsa, o pecuarista assume o risco de base, uma vez que vende contratos futuros ou compra opções de venda com preços de referência em São Paulo. O risco de base tende a ser menor que o risco de mercado, o que mantêm interessantes estas outras opções. Como o foco aqui é o diferencial, falaremos do contrato a termo.
Vantagens e desvantagens do contrato a termo
O contrato a termo é visto por muitos pecuaristas como uma forma de dar munição ao “inimigo”, no caso, o frigorífico. O termo “inimigo” é ilustrativo, sem entrar no mérito do relacionamento entre os elos da cadeia.
A partir desta premissa, caso muitas boiadas fossem negociadas a termo, teríamos um cenário de pressão de baixa, com a indústria com escalas parcialmente feitas e possibilidade de pressionar o mercado. Ocorre em algumas regiões.
Por outro lado, há estudos que apontam que a mesma oferta que está antecipadamente nas mãos da indústria (termo), faz falta aos que negociam no físico, na época do abate. Isto tenderia a reduzir a pressão do termo sobre as cotações.
Como o pecuarista deve agir? 
A Teoria dos Jogos foi proposta por John Nash, ganhador do Nobel de Economia em 1994. Em uma análise rápida, ela avalia situações nos quais diversos agentes interferem nos resultados de situações.
Seguindo a linha de raciocínio, para que os produtores tomassem a decisão ótima, deveriam saber como os outros agiriam. Assim, ou uma parcela importante de produtores deixaria de fazer o termo ou aquele produtor específico, deixando de fazê-lo, seria um soldado sozinho em uma batalha, na qual será irrelevante.
Como o pecuarista não tem estas informações, é melhor que, caso a indústria tenha termo suficiente para pressionar as cotações, ele seja um dos que possuam preços garantidos.
O pecuarista deve focar no seu negócio e garantir os seus preços. Tentar mudar o mercado sozinho é bonito, mas pode custar caro.
Para travar, pode optar por usar a bolsa e assumir o risco do diferencial ou usar o termo. No caso do termo, o diferencial geralmente é travado com antecedência. Ou seja, o pecuarista negocia o preço de São Paulo, menos um diferencial.
Para isso, deve ter em mente valores médios de diferencial para o mês foco do negócio a ser feito. A tabela 1 traz estes diferenciais médios nos últimos cinco anos.
Tabela 1.
Diferenciais de base em relação a São Paulo em cada mês, na média entre 2012 e 2016.
Fonte: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br
Se o preço no mercado futuro em São Paulo estiver interessante, o produtor deve avaliar o diferencial, frente à média para o mês. Usamos uma média de cinco anos, porque os diferenciais são dinâmicos e séries mais longas acabam se distanciando do observado recentemente.
Avaliar o diferencial atual e o que ocorreu no ano anterior também é importante, caso haja alteração expressiva no mercado da região.
Por fim, todas as possibilidades de trava de preços podem ser interessantes, com vantagens e desvantagens, mas todas devem ser feitas a partir do conhecimento dos custos de produção, se não voltamos ao “achismo”.

Por: Hyberville Neto

Fonte: Scot Consultoria 18/01/2017